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Projecto de fotografia

Olho de Pedra

Este projecto foi concebido para a unidade curricular Sistemas de Registo do Património, durante a licenciatura de Ciências da Arte e do Património.

 

No trabalho fotográfico “Olho de Pedra” pretendo mostrar uma parte de mim, e nada melhor do que fotografar a terra onde nasci e cresci. Paderne, uma povoação com cerca de 5000 habitantes, situada entre a serra e o mar, é uma das mais antigas do concelho de Albufeira, mantem os traços de uma aldeia do interior com o velho casario, o seu castelo, a fonte e as ribeiras.

 

Com um olhar deambulante e curioso, vagueei por ruas e estradas, becos e encruzilhadas. Espreitei e apreciei... Foquei o olhar, e descobri imagens simples e belas que nunca tinha conseguido admirar ou apreciar antes, embora estivessem sempre lá.

Descobri o “Olho de Pedra”; chamo-o assim, mas o seu verdadeiro nome é Argola de Pedra.

Deambulando pelas estradas algarvias…

Há uma aldeia chamada Paderne,

a minha terra.

E a do meu avô.

Onde encontrei um olho de pedra sobressaído de uma parede, para a estrada.

De lá espreitei…

E vi fragmentos da minha terra,

Paderne.

Terra minha e do meu avô.

Pedi-lhe que me contasse a história do olho de pedra.

Ele riu-se…

Não é um olho de pedra!

Ou um binóculo…

Nem um ponto de vigia que se espreita.

São argolas de pedra,

que têm uma história…

Curta,

mas interessante.

Que ficou esquecida no tempo…

E que agora vou relembrar.

 

Noutros tempos,

os donos dos terrenos agrícolas, quando construíam as suas casas em pedra,

colocavam pedras com um buraco, em forma de argola, sobressaídas da parede.

Há pelo menos 70 anos, que não se fabricam estas argolas.

Feitas no tempo do meu bisavô, tratam-se de uma arte centenária.

A pedra, extraída da pedreira de Taliscas,

em Paderne.

Pedra calcária, rígida, coesa e dura,

esculpida pelas mãos de dois homens…

Este trabalho manual era feito no próprio local,

ao ar livre.

Sentados junto à pedreira,

só precisavam da ajuda de escopos, martelos e ponteiros.

Mós e pias eram outras artes feitas nesta pedreira.

 

Mas para que serviam estas argolas?

Na verdade… estas argolas são Amarras de Pedra.

Tal como o próprio nome diz, serviam para amarrar.

O quê?

As bestas…

Burros, mulas, vacas e outros animais.

As amarras encontram-se em edifícios que foram, em outros tempos,

casas de comércio: vendas, ferreiros,

armazéns de frutos secos, alagares de azeite, padarias,

tabernas, mercearias e… em poucas casas de habitação.

O dono da besta prendia-a para que esta não fugisse,

enquanto o dono ia fazer compras ou tratar de negócios.

Ou até mesmo beber um copinho do remédio santo…

Assim, o bicho de carga ficava amarrado na entrada do estabelecimento à espera…

À espera…

À espera…

À espera…

À espera…

 

Hoje…

Não há bestas por estas bandas,

burros, mulas, vacas e outro tipo de animais.

Há veículos,

carros, motas, triciclos, camiões, tratores…

E muitos dos edifícios que eram,

Já não são.

E as Amarras de Pedra,

são apenas pedras espetadas na parede,

ou então, uma decoração da entrada da casa.

Uma arte morta,

mas que ainda está à espreita!

E porque não, um Olho de Pedra?

À espreita do que acontece e de quem passa…

Pelos caminhos algarvios.

Pela minha terra.

Espreitadelas que acabei por fotografar…

 

A história das argolas de pedra,

contado em forma de conto

Beatriz Ramos

Ano / 

2015/2016

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